Aqui vai:
"Senhor, ensina-nos a orar"
Porque é que rezamos? Por vezes
pode parecer fácil responder a esta pergunta, especialmente para pessoas
crentes, mesmo que a resposta possa variar conforme a pessoa. "Porque
sim", "porque faz parte", "porque me ajuda", "porque
quero falar com Deus", e tantas outras. Outras vezes, não encontramos
resposta, porque não encontramos fundamento para rezar. Muitas vezes pensamos
que deveríamos ter sempre essa resposta na "ponta da língua", como se
fosse um autocolante que provasse a nossa crença. Tomemos o exemplo dos
discípulos. Certamente estavam mais que habituados na sua cultura judaica a
rezar. No entanto, viram em Jesus algo de diferente e importante quando ele
rezava. Valia a pena admitir que não eram experts
na matéria, e pedir-lhe que os ensinasse a rezar.
Do Evangelho de São Lucas:
"Estava
Jesus em certo lugar orando e, quando acabou, disse-lhe um dos seus discípulos:
Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou aos seus discípulos. Ao que
ele lhes disse: Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o teu nome; venha
o teu reino; dá-nos cada dia o nosso pão quotidiano; e perdoa-nos os
nossos pecados, pois também nós perdoamos a todo aquele que nos deve; e não nos
deixes entrar em tentação." (Lc 11, 1-4)
Música: Vem Senhor, ensina-me a rezar
A
versão do Pai Nosso que costumamos rezar encontra-se no Evangelho segundo São
Mateus (Mt 6, 9-13). É extremamente interessante notar que parte dos
"pedidos" contidos nesta oração são também constatações acerca da
realidade de Deus cuja responsabilidade é nossa.
Do mesmo modo, Jesus diz-nos para pedirmos ao Pai que nos perdoe, porque nós
também perdoamos. Ou seja, pedir com humildade, mas com a consciência de que
tentamos viver na lógica do perdão. Não devemos entender o Pai Nosso como uma
lista de pedidos enfadonha. Antes de ensinar os discípulos, Jesus diz-lhes que
rezar não consiste em repetir a mesma coisa como se só por causa disso fossem
ouvidos. Esta advertência de Jesus pode ajudar-nos a rezar nos dias de hoje.
Não é que não possamos repetir palavras, mas devemos perceber com que intuito é
que o fazemos. No meio dessas advertências vem outra: o propósito de rezar não
deve ser o de ser admirado pelos outros, mas sim o de se recolher "no seu
quarto", isto é, no seu coração, e rezar humildemente. Ao ensiná-los a
rezar, Jesus ensina-os também algo sobre como viver, pois estas recomendações
sobre a oração encontram-se no meio de recomendações sobre a esmola e o jejum.
Rezar, então, não é algo desligado da vida, mas faz parte dela.
Música: Senhor, ensina-me a viver
Do
Evangelho de São Marcos:
Chegaram
a uma propriedade chamada Getsémani, e Jesus disse aos discípulos: "Ficai
aqui enquanto Eu vou orar."Tomando consigo Pedro, Tiago e João, começou a
sentir pavor e a angustiar-se. E disse-lhes: "A minha alma está numa
tristeza mortal; ficai aqui e vigiai." Adiantando-se um pouco, caiu por
terra e orou para que, se possível, passasse dele aquela hora. E dizia:
"Abbá, Pai, tudo te é possível; afasta de mim este cálice! Mas não
se faça o que Eu quero, e sim o que Tu queres." Depois, foi ter com os
discípulos, encontrou-os a dormir e disse a Pedro: "Simão, dormes? Nem uma
hora pudeste vigiar! Vigiai e orai, para não cederdes à tentação; o espírito
está cheio de ardor, mas a carne é débil."
Num
momento extremamente delicado da sua vida, Jesus vai para um local isolado para
rezar. Apesar de procurar estar sozinho para rezar, leva os seus amigos com
ele, e confidencia-lhes o que lhe vai no íntimo. Pede-lhes inclusive, que
fiquem ali com ele, que vigiem e que rezem também. Jesus precisa do auxílio dos
seus amigos.
Música: Bleibet hier (Permanece junto de mim; ora e vigia.)
Muitas
vezes não nos apetece rezar. Não temos vontade de rezar. Jesus pede-nos para
rezar, mas sabe que a nossa determinação vale o que vale, como podemos ver pela
passagem do Evangelho de São Marcos. No entanto, apesar de conhecer a fraqueza
dos discípulos, pediu-lhes que ficassem com ele e que rezassem.
Não
nos acusemos demasiado se não conseguimos rezar. É verdade que por vezes não
queremos mesmo rezar, queremos estar virados para outro lado, e não queremos
confrontar-nos nem com Deus nem connosco próprios. Talvez seja importante percebermos porquê.
Muitas vezes a vida dificulta-nos essa tarefa. Quem sabe, podemos nesses
momentos juntarmo-nos com os nossos amigos, para brincar, para conversar, para
partilhar. Talvez encontremos motivos para rezar, para agradecer a Deus ou para
pedir algo a Deus. É também por isto que precisamos de viver em Igreja, pois
precisamos de mostrar uns aos outros: "Não estás sozinho. Tens amigos a
passar por dificuldades, outros em bons momentos, outros ainda a aprender
algumas coisas e outros a ensinar outras. Mas são filhos de Deus, e portanto,
são teus irmãos."
No
entanto, por vezes parece permanecer um vazio, restando-nos muitas vezes aquilo
que parece ser muito pouco. O irmão Roger, de Taizé, costumava dizer que
"o desejo de Deus já é oração". Rezar começa com algo muito simples,
uma leitura, uma reflexão, uma música, uma partilha. No meio de todas estas
coisas, devemos, no entanto, parar e relembrarmo-nos de Deus. Essa é a condição
fundamental. Pararmos, nem que seja por dois segundos, para "ouvir o
silêncio", como se costuma dizer.
Poderemos,
no meio das nossas inseguranças e incertezas, parar, relembrarmo-nos do Deus
que nos ama, e percebermos que esse "desejo de Deus" que está
presente em nós nos faz querer rezar, mesmo quando parece pouco?
Música: Behüte mich Gott (Cuida de mim, ó Deus, pois eu confio em Ti. Tu ensinas-me o
caminho da vida. Contigo há alegria em plenitude.)
Música: Bonum est confidere (É bom confiar e esperar no Senhor.)
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