quinta-feira, 21 de março de 2019

"Senhor, ensina-nos a orar"

Como o tempo não chega para tudo, aproveitei o que preparei para a oração que se costuma realizar de 15 em 15 dias, com a malta dos Convívios Fraternos.
Aqui vai:

"Senhor, ensina-nos a orar"


Porque é que rezamos? Por vezes pode parecer fácil responder a esta pergunta, especialmente para pessoas crentes, mesmo que a resposta possa variar conforme a pessoa. "Porque sim", "porque faz parte", "porque me ajuda", "porque quero falar com Deus", e tantas outras. Outras vezes, não encontramos resposta, porque não encontramos fundamento para rezar. Muitas vezes pensamos que deveríamos ter sempre essa resposta na "ponta da língua", como se fosse um autocolante que provasse a nossa crença. Tomemos o exemplo dos discípulos. Certamente estavam mais que habituados na sua cultura judaica a rezar. No entanto, viram em Jesus algo de diferente e importante quando ele rezava. Valia a pena admitir que não eram experts na matéria, e pedir-lhe que os ensinasse a rezar.

Do Evangelho de São Lucas:
"Estava Jesus em certo lugar orando e, quando acabou, disse-lhe um dos seus discípulos: Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou aos seus discípulos. Ao que ele lhes disse: Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o teu nome; venha o teu reino; dá-nos cada dia o nosso pão quotidiano; e perdoa-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos a todo aquele que nos deve; e não nos deixes entrar em tentação." (Lc 11, 1-4)


A versão do Pai Nosso que costumamos rezar encontra-se no Evangelho segundo São Mateus (Mt 6, 9-13). É extremamente interessante notar que parte dos "pedidos" contidos nesta oração são também constatações acerca da realidade de Deus cuja responsabilidade é nossa. Do mesmo modo, Jesus diz-nos para pedirmos ao Pai que nos perdoe, porque nós também perdoamos. Ou seja, pedir com humildade, mas com a consciência de que tentamos viver na lógica do perdão. Não devemos entender o Pai Nosso como uma lista de pedidos enfadonha. Antes de ensinar os discípulos, Jesus diz-lhes que rezar não consiste em repetir a mesma coisa como se só por causa disso fossem ouvidos. Esta advertência de Jesus pode ajudar-nos a rezar nos dias de hoje. Não é que não possamos repetir palavras, mas devemos perceber com que intuito é que o fazemos. No meio dessas advertências vem outra: o propósito de rezar não deve ser o de ser admirado pelos outros, mas sim o de se recolher "no seu quarto", isto é, no seu coração, e rezar humildemente. Ao ensiná-los a rezar, Jesus ensina-os também algo sobre como viver, pois estas recomendações sobre a oração encontram-se no meio de recomendações sobre a esmola e o jejum. Rezar, então, não é algo desligado da vida, mas faz parte dela.


Do Evangelho de São Marcos:
Chegaram a uma propriedade chamada Getsémani, e Jesus disse aos discípulos: "Ficai aqui enquanto Eu vou orar."Tomando consigo Pedro, Tiago e João, começou a sentir pavor e a angustiar-se. E disse-lhes: "A minha alma está numa tristeza mortal; ficai aqui e vigiai." Adiantando-se um pouco, caiu por terra e orou para que, se possível, passasse dele aquela hora. E dizia: "Abbá, Pai, tudo te é possível; afasta de mim este cálice! Mas não se faça o que Eu quero, e sim o que Tu queres." Depois, foi ter com os discípulos, encontrou-os a dormir e disse a Pedro: "Simão, dormes? Nem uma hora pudeste vigiar! Vigiai e orai, para não cederdes à tentação; o espírito está cheio de ardor, mas a carne é débil."

Num momento extremamente delicado da sua vida, Jesus vai para um local isolado para rezar. Apesar de procurar estar sozinho para rezar, leva os seus amigos com ele, e confidencia-lhes o que lhe vai no íntimo. Pede-lhes inclusive, que fiquem ali com ele, que vigiem e que rezem também. Jesus precisa do auxílio dos seus amigos.

Música: Bleibet hier (Permanece junto de mim; ora e vigia.)

Muitas vezes não nos apetece rezar. Não temos vontade de rezar. Jesus pede-nos para rezar, mas sabe que a nossa determinação vale o que vale, como podemos ver pela passagem do Evangelho de São Marcos. No entanto, apesar de conhecer a fraqueza dos discípulos, pediu-lhes que ficassem com ele e que rezassem.


Não nos acusemos demasiado se não conseguimos rezar. É verdade que por vezes não queremos mesmo rezar, queremos estar virados para outro lado, e não queremos confrontar-nos nem com Deus nem connosco próprios.  Talvez seja importante percebermos porquê. Muitas vezes a vida dificulta-nos essa tarefa. Quem sabe, podemos nesses momentos juntarmo-nos com os nossos amigos, para brincar, para conversar, para partilhar. Talvez encontremos motivos para rezar, para agradecer a Deus ou para pedir algo a Deus. É também por isto que precisamos de viver em Igreja, pois precisamos de mostrar uns aos outros: "Não estás sozinho. Tens amigos a passar por dificuldades, outros em bons momentos, outros ainda a aprender algumas coisas e outros a ensinar outras. Mas são filhos de Deus, e portanto, são teus irmãos."
No entanto, por vezes parece permanecer um vazio, restando-nos muitas vezes aquilo que parece ser muito pouco. O irmão Roger, de Taizé, costumava dizer que "o desejo de Deus já é oração". Rezar começa com algo muito simples, uma leitura, uma reflexão, uma música, uma partilha. No meio de todas estas coisas, devemos, no entanto, parar e relembrarmo-nos de Deus. Essa é a condição fundamental. Pararmos, nem que seja por dois segundos, para "ouvir o silêncio", como se costuma dizer.
Poderemos, no meio das nossas inseguranças e incertezas, parar, relembrarmo-nos do Deus que nos ama, e percebermos que esse "desejo de Deus" que está presente em nós nos faz querer rezar, mesmo quando parece pouco?

Música: Behüte mich Gott (Cuida de mim, ó Deus, pois eu confio em Ti. Tu ensinas-me o caminho da vida. Contigo há alegria em plenitude.)

Música: Bonum est confidere (É bom confiar e esperar no Senhor.)

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